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Conheça a cidade da Espanha, onde a água “desafia” a gravidade

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A água desafia a gravidade em Alhambra de Granada, na Espanha. O local é um complexo palaciano do século 8, sendo um dos maiores exemplos da  arquitetura moura no mundo.

No local, a água flui em canais que resfriam os prédios, jorra de fontes em grandes salões e pátios encantadores. Além disso, ela pulveriza de maneira que, de alguns ângulos, enquadra as portas em arco.

Esse mesmo sistema está presente nos jardins do Generalife, o antigo palácio de verão ao lado. Na época, esta era uma das redes hidráulicas mais sofisticadas do mundo, capaz de desafiar a gravidade ao levar a água do rio, quase um quilômetro abaixo, até o topo de uma colina.

A arquitetura ainda impressiona os engenheiros atualmente. De acordo com o Programa Hidrológico Internacional da Unesco, “a tecnologia moderna da água deve ao legado [destes] jardins aquáticos e casas de banho”, que antes eram apreciados apenas pelos ricos e poderosos. Mas hoje em dia, tornam os banhos e as horas acessíveis e práticas.

O grande Reino de Granada se desenvolveu ao longo dos rios Darro e Genil e anos depois se tornou a comunidade autônoma da Andaluzia na Espanha.

Para os governantes islâmicos que controlaram esta parte da Espanha por quase 800 anos, a água era essencial para sobrevivência e para fins religiosos e estéticos.

“No Islã, a água é a origem da vida, é um símbolo de pureza e atua como purificador do corpo e da alma; é considerada piedosa”, explica Rocío Díaz Jiménez, diretora-geral do conselho de administração da Alhambra e do Generalife.

As fontes públicas foram instaladas ao lado de mesquitas para ablução (ritual de purificação antes das orações), ou próximo aos portões da cidade. As casas também contavam com uma fonte de água, até as mais humildes.

“É um elemento fundamental para a existência de Alhambra.”

O desafio de levar água para o topo

Foto: Perszing1982/ Getty Images

Historiadores estimam que a Alhambra foi criada como uma fortaleza no século 9 por Sawwar ben Hamdun, durante as guerras entre muçulmanos e cristãos que se converteram ao islamismo.

Porém, apenas no século 13, durante o governo de Muhammad 1º, o primeiro rei da dinastia nasrida, que os engenheiros conseguiram superar o desafio da localização elevada da Alhambra, a 840m de altura no monte Sabika, e tornaram a cidade habitável com acesso à água.

Os nasrida teriam criado uma inovação para levar a água por 6 km, do rio mais próximo até o seu complexo de pátios, jardins e casas de banho. Diaz explica que “tudo indica que os nasridas foram os primeiros a levar água para o monte vermelho de Sabika e torná-lo habitável”.

A grande inovação foi a Acequia Real, um canal de 6 km que saía do rio Darro. Uma espécie de barragem foi criada para desviar o fluxo rio acima, e a força do rio o transportava ao longo da encosta antes de destinar a água para canais menores. Rodas de água foram adicionadas para elevar a água a diferentes níveis.

Depois disso, passava por uma estrutura hidráulica composta por grandes piscinas, cisternas e tubos em uma rede interligada. Em seguida, a água era transportada para os jardins do Generalife e para o próprio palácio da Alhambra através de um aqueduto.

Até os dias atuais, os visitantes ainda podem ver parte da Acequia Real hoje no Pátio da Acequia do Generalife.

Fonte dos leões

Foto: Eunikasopotnicka/ Getty Images

Com o passar dos anos, o sistema hidráulico do palácio-cidade foi ampliado. Mais rodas e grandes piscinas foram construídas e cisternas foram adicionadas para coletar a água da chuva. 

Logo após, foi bifurcado outro canal a partir da Acequia Real, chamado Acequia Tercio. Ele era responsável por regar os pomares acima do Generalife.

Um dos exemplos mais inteligentes do sistema hidráulico da Alhambra está no Palácio dos Leões. A Fonte dos Leões é um grande prato sustentado por 12 leões míticos brancos. A água jorra da boca de cada animal, alimentando quatro canais no piso do pátio e em seguida percorre o palácio para resfriar os cômodos.

Díaz aponta que “a Fonte dos Leões reúne o conhecimento de uma tradição técnica, fruto de estudos e experiências construtivas ao longo de muitos séculos, que permitiram a criação da Alhambra”.

Enquanto a Acequia Real foi continuamente modernizada e ampliada ao longo dos séculos, outras caíram em abandono e pararam de funcionar. Entre elas está o canal Aynadamar do século 11, a acequia mais antiga da cidade. Ela foi quem permitiu o desenvolvimento do distrito medieval de Albaicín, em Granada, parte do Patrimônio Mundial da Unesco da área.

Restauração com técnicas tradicionais

Foto: Juana Mari Moya/ Getty Images

Neste ano, José María Martín Civantos, professor da Universidade de Granada, e a Fundación Agua Granada, estão liderando um projeto para restaurar o canal de Aynadamar.

De acordo com Civantos, “a obra será realizada de acordo com os costumes tradicionais, respeitando o traçado original e o seu patrimônio, assim como a recuperação do canal e do seu ambiente”.

Sebastián Pérez Ortiz, diretor administrativo da Fundación Agua Granada, informou que a água vai irrigar áreas com ecossistemas semiáridos. Além disso, Aynadamar se tornará um corredor ecológico para o desenvolvimento da vegetação nativa e um habitat para muitos animais.

Por esses mesmos motivos, os cientistas da Associação Internacional de Engenharia e Pesquisa Hidroambiental realizarão o Congresso Mundial em Granada neste ano. Eles analisarão a importante relação da cidade com a água no passado, presente e futuro.

“As técnicas engenhosas dos mouros nos mostram que inovação e tecnologia não precisam ser incompatíveis com a conservação, muito menos com a sustentabilidade”, afirma Civantos.

Fonte: BBC

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