Curiosidades

A trajetória inacreditável do corpo de Evita Perón

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Muitas pessoas despendem grande parte de seu tempo para se aventurar mundo afora. São sempre impressionantes as possibilidades que as culturas de diferentes localidades do planeta nos aguardam. Por isso, ser um mochileiro de carteirinha parece uma ótima ideia quando você tem condições para isso. Ou, sei lá, quando você finge que faz parte do filme Na Natureza Selvagem. Só não vale morrer no processo, não é? Porque aí já não compensaria. Bom, falando de morte… e se todas as viagens fossem feitas com o seu corpo meio que… sem vida? Acho que a emoção e adrenalina seriam inexistentes (só acho mesmo). É a história de uma mulher, que pesava pouco mais de 30 quilos, quando parou de respirar. A trajetória inacreditável do corpo de Evita Perón é algo para se contar nos livros de História, com toda a certeza.

Influente na Argentina, ela infelizmente perdeu a vida por conta de um câncer acometido em seus plenos 33 anos de idade, após suplicar ao povo que não a esquecesse. E não esqueceram, diga-se de passagem. Naquele 26 de julho de 1952, as rádios transmitiram a mensagem oficial: “Às 20h25, entrou na eternidade a senhora Eva Perón, líder espiritual da nação”. O presidente Juan Domingo Perón (1895-1974), logo em seguida, decidiu embalsamar o corpo de Evita, sua falecida esposa.

Corpo como símbolo político

María Eva Duarte de Perón, conhecida como Evita, foi uma atriz e líder política argentina. Tornou-se primeira-dama da Argentina quando o general Juan Domingo Perón foi eleito presidente. Quem diria que uma grande jornada teria início no fim de sua vida, não é mesmo? Muitos consideraram o corpo como um símbolo político, que poderia ser usado pelos peronistas. Alguns oficiais sugeriram cremá-la, enquanto outros achavam melhor jogá-la no rio La Plata. A Marinha, por sua vez, queria desintegrá-la com ácido. Católico fervoroso, o general Pedro Aramburu decidiu dar ao corpo uma sepultura cristã. Por isso, ordenou a Koenig enterrá-lo num local seguro.

Na noite de 23 de novembro de 1955, um comando militar invadiu a sede da Confederação Geral do Trabalho. O então coronel Carlos Koenig, chefe do Serviço de Inteligência do Exército (SIE), olhou com desprezo para a múmia ao lado do doutor Ara e a levou para um caminhão. No entanto, o desprezo virou obsessão e Koenig já não podia viver sem ela. Precisava escondê-la para mantê-la sempre presente.

Por isso, viajou com o corpo de Evita pela cidade. Ele tentou deixá-la na Marinha, ocultá-la atrás da tela do cinema Rialto e escondê-la no sótão da casa do major Arandia, um velho amigo. A última tentativa finalmente “deu certo”, com exceção de que uma tragédia estava para acontecer. Uma noite, Arandia ouviu ruídos e disparou a pistola, achando que os peronistas haviam invadido a casa. Com isso, acabou matando sua mulher que estava grávida!

As pessoas começaram a suspeitar de atitudes estranhas advindas de Carlos Koenig. Pelas versões relatadas, parecia que a obsessão doentia havia chegado em níveis absurdos, como se masturbar na frente do corpo. Tanto fez que foi confinado num regimento da Patagônia.

Mais obsessões pelo corpo?

No lugar de Koenig, assumiu o coronel Héctor Cabanillas. “Suspeitávamos que havia comandos peronistas preparados para roubar o cadáver”, afirmou num documentário da TV Plus, na Espanha. “Diante de tantas pressões, veio a necessidade de tirá-lo do país”. Rumo à Milão, novamente a jornada tomaria outro caminho. O corpo sairia do porto de Buenos Aires com o nome falso de María Maggi de Magistris, uma italiana morta em 1951. Toda essa estratégia ficara registrada como “Operação Traslado”.

Como o corpo de Evita pesava pouco, os militares colocaram pedras junto com o cadáver. Os fiscais do porto desconfiaram do enorme peso e decidiram abrir o caixão. “Era uma mulher muito gorda”, justificou o padre Rotger, um dos encarregados na missão. Passou de raspão. Na Itália, mais precisamente no Cemitério Central de Milão, um empregado anotou na folha de registro: “María Maggi de Magistris. Data de falecimento: 23-02- 1951. Fossa 41. Data de enterro: 13-05-1957”.

Boatos e extremismo

Nos anos 1960, o corpo de Evita persistia intrigando os argentinos. Os boatos que corriam sobre a destruição do corpo estavam realmente corretos? Jogaram-no no rio? Como se já não bastasse, as coisas tomaram um rumo extremo demais. Enquanto Giuseppina levava flores à tumba em Milão, cresciam em Buenos Aires os rumores de que os paulinos tinham ligação com o sumiço do corpo. O clímax aconteceu em 1970, quando o presidente Aramburu foi sequestrado pelos montoneros (jovens peronistas de esquerda). Como não contou onde estava Evita, eles mataram-o. Sim, aqui começara o efeito borboleta de obsessões, estranhezas e jogos políticos.

Em 1971, o coronel Alejandro Lanusse chegou à Presidência admitindo negociar com Perón. Como gesto de boa vontade, decidiu entregar o corpo ao marido. Naquele momento, Perón vivia exilado em Madri. Lanusse chamou o amigo Rotger para dizer que era hora da “Operação Devolução”. Está conseguindo acompanhar? Até aqui, já se passaram ao menos 14 anos de trajetórias e tragédias. Após dois dias de viagem de carro, o corpo chegou em Madri, no dia 3 de setembro de 1971. Perón recebeu-o em sua residência no bairro de Puerta de Hierro. Ele estava com sua terceira mulher, Isabel Martínez, além do assistente José López Rega. Este, inclusive, era conhecido como “o bruxo”.

Mas que tipo de bruxaria é essa?

Perón ainda não superara a morte de Evita. Por isso, entregou-se aos rituais de bruxarias montados pelo López Rega. “Ele fazia Isabel se deitar sobre o cadáver e pronunciava orações. O objetivo: fazer a alma de Evita passar ao corpo de Isabel [a terceira mulher]”, afirma o jornalista Sergio Rubín. Nesse ínterim, a democracia voltara em 1973. Perón regressou ao país e venceu as eleições para presidente, com Isabel de vice. No entanto, os montoneros não o perdoaram pela negligência com Evita. Sequestraram o corpo de Aramburu e anunciaram que só devolveriam se a Madre Mía retornasse da Espanha.

Em 1974, Perón morreu e sua terceira mulher se tornara presidente. Com todas as intrigas envolvendo o corpo de Evita, ela contratou o restaurador Domingo Tellechea para repará-lo. Anos depois, Tellechea revelou que o corpo apresentava uma profunda incisão no pescoço, o nariz destroçado e não tinha um dos dedos do pé. “Esses danos não se produziram pelo movimento do corpo, e sim por uma grande força exercida contra ele”, disse. Ataque de militares?

Em setembro do mesmo ano, o corpo de Evita finalmente foi levado de volta à Argentina e colocado junto ao corpo do marido. Entretanto, um novo golpe levou a Argentina para a sua ditadura mais cruel dois anos depois. Os militares entregaram o corpo de Evita para suas irmãs, que depositaram no Cemitério da Recoleta. Atualmente, lá está o cadáver. Esperemos que permaneça dessa forma.

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